quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Fusquinha

Foi em 1983. Conheci o Daniel através do meu irmão mais novo e foi amor a primeira vista. Passei a fugir na combe do meu pai , que meu irmão pegava escondido, e ir a uma boate que ele sempre ia. Nos conhecemos e passamos a sair juntos.
Daniel era sempre duro e por conta disso a nossa primeira vez ficava cada vez mais difícil de acontecer pois não encontrávamos lugar. Foi quando Daniel pegou o fusca do pai dele e fomos para a praia. Eu estava toda ansiosa , louca para conhecer Daniel mais profundamente, se é que me entendes. 
Passou la em casa e fomos a beira da praia. Logo que chegamos depois daquela conversa meio sem graça , Daniel  ligou o radio e no embalo da musica começamos o amasso. 
Mão aqui, mão ali...
É hoje! - Eu pensava.
Tudo perfeito e muito animado quando de repente começamos a sentir um cheiro de queimado e uma fumaça estranho no ar. 
- Nossa!! Daniel é realmente muito quente! Vou me dar bem!
Mas o calor e a fumaça não vinham de Daniel , mas do radinho que estava simplesmente pegando fogo! Tivemos que sair do carro e chamar alguém para ajudar! 
Daniel saiu do fusca, literalmente, com as calças na mão. E quase perdeu o fusca do pai dele. Conseguimos ajuda e tivemos que pegar carona até a minha casa e a dele, pois o fusquinha não pegava mais depois do incêndio do radinho. 
Depois disso tentamos mais duas vezes e finalmente nossa primeira vez aconteceu. 
Namorei dois anos com Daniel e hoje estamos casados a 30 anos... Apesar de Daniel só ter se casado porque meu pai o ameaçando com uma espingarda - eu estava gravida - o "convidou" a ir ao cartório, hoje somos muito felizes, temos três filhos maravilhosos
Mesmo eu  tendo que rasgar todas as fotos do nosso casamento onde Daniel aparecia demostrando tanta felicidade quanto a mesma daquela exprimida pelo meu cachorrinho quando voltou do castração, hoje ele sabe que foi a melhor coisa que ele fez na vida dele . rsrsr Rimos muito das nossas histórias. 


 Janaina

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Adriana

Como todo post inicia com o nome de um homem, sendo este blog escrito por mulheres, faço diferente e começo por mim; Adriana..
Não sei quanto a vocês, mas quando eu tenho certa antipatia pelo cara logo tomo cuidado, pois é por caras assim que costumo me apaixonar.
Mateus era um pé no saco. Soberbo, sarcástico, com um poder de persuasão incrível. Para ele mulheres serviam para curtição, farra , diversão e transportar a cerveja  da geladeira até as mãos dele.
Eu sentia que era reciproco, a gente se odiava.
Um dia Mateus apareceu com uma namorada e eu fiquei super incomodada com aquilo. Passei a odiar ainda mais Mateus.
Eu imaginava estar ficando louca, mas a raiva aumentava cada vez que eu via Mateus com a sua namorada chata.
Tentei desvincular meu pensamento de Mateus.
Quando fomos apresentar trabalho em um Congresso em outra cidade nós dois ficamos hospedados no mesmo hotel e, com certa laboriosidade, passamos a fazer as coisas juntos. Era uma semana de Congresso, nos primeiros dias só almoçamos e jantamos juntos no quinto dia, depois de algumas quantas cervejas, ele estava dormindo comigo no meu quarto.
Quando chegamos em nossa cidade todos já sabiam que eu e Mateus havíamos dividido o mesmo colchão. Mateus fazia o tipo gostosão e não se importava muito com o que sua namorada pudesse pensar sobre aquilo, ele queria era contar para todo mundo que tinha brincado de médico comigo. Tanto que contou todos os detalhes e como se não bastasse inventou muitos outros.
Assim Mateus ficou conhecido como comedonto (comedor  + odonto, curso que fazemos) e suas vitimas como pacimidas (pacientes +comidas).
Tudo certo até o momento em que passei a ser conhecida como uma pacimida do garanhão da odontologia. Tinha gente sabendo até onde eu tinha sinais de nascença por conta do Mateus - o comedor!
Isso me deixou tremendamente irritada e precisava fazer justiça a mim e as minhas iguais. Foi quando passamos a contar o desempenho do senhor comedor e mencionamos o tamanho de sua ferramenta. De comedonto, Mateus passou a ser chamado de amendoim.

E assim termino a minha histórinha..


Dri. 

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Lembranças



As lembranças são como bolhas de sabão pairando no ar
coloridas por um tempo
mas explodem e somem.. uma a uma

o que mais me dói é o cheiro que se foi
nas tuas roupas esse odor insuportável de mofo
cheiro de passado
cheiro das coisas imóveis 
e guardadas a algum tempo...

o calor agora pertence apenas às lágrimas
e as lembranças são como bolhas de sabão
flutuantes
não podem ser tocadas
nada mais pode ser tocado
nem mesmo essa dor 
arraigada em cada parte do meu ser
em alma e corpo

Essas lembranças não são como bolhas de sabão
as bolhas de sabão são leves demais...

AME


sábado, 12 de novembro de 2011

Eduardo

O Duda é aquele tipo que só faz coisas idiotas e vive reclamando de estar sozinho, que mulher não sabe dar valor, que mulher é isso e aquilo. Mas o Duda pede para se dar mal:
-O cara diz que ama na primeira semana de relacionamento,
- Quando sai faz barraco por ciumes,
- Trata mal a menina que está com ele na frente dos "brothers", mas quando está sozinho com a menina deita, rola, finge que dorme, tudo de acordo com o que ela mandar.
- É aquele que , segundo ele, já pegou milhares de mulheres, mas nunca é visto com ninguém
Iguais ao Duda tem aos montes...
E assim foi comigo quando conheci um dos meus "Dudas".
Eu não tinha muita intenção de ficar com ele, até porque a insistência dele já estava me incomodando. Foi quando Duda quis me dar um presente.
- Tânia , queria entregar um presente que eu comprei para você.
- Duda, nós já conversamos sobre isso. Você sabe que somos amigos e quero que continue assim. 
- Tânia, é uma lembrança só. Lembrei de você e quero te dar.
- Está certo, pode vir me pegar.
Duda passou aqui em casa e fomos conversar, foi ai que ele me deu um presente; um perfume muito bom por sinal. Porém , como eles sempre tem uma segunda intenção, Duda tentou me agarrar.
Resolvi cortar o mal pela raiz naquela noite e inventei que estava saindo com outra pessoa. Então ele me trouxe em casa e depois de duas semanas voltou a me procurar.
Eduardo queria o perfume de volta! Sim!! Ele queria o perfume que me deu de volta!!!
Eu devolvi, mas eu sabia que isso um dia teria volta.
E teve...
Uns anos mais tarde eu e Duda nos encontramos. Ele era bastante amigo de um primo meu. Voltamos a conversar e pensei que Duda talvez estaria diferente desta vez. (A gente sempre pensa! Ledo engano!).
 Duda, então, me manda uma caixa de bombom, dos que eu mais gostava! Novamente expliquei que não seria possível nenhum envolvimento entre nós e comi todos os bombons antes que ele me pedisse de volta.
O lance foi que Duda foi embora para outra cidade e anos mais tarde nos encontramos de novo. Duda estava mudado, mais maduro, a gente estava se entendendo quando resolvi que daria uma chance para ele. Ficamos por um tempo e Duda desta vez não me deu nenhum presente. rsrsrs.
Foi quando Eduardo com uma cara de cachorrinho sem dono chega para mim e menciona que frase??
Qual , qual , qual?
Aquela, mais old que a Suzana Vieira, mas que nós mulheres ainda tememos...
QUAL?
" Não vai dar mais para continuar, eu estou confuso. Não me leve a mal, não é nada pessoal,NÃO É VOCÊ  SOU EU..."
Naquele exato momento eu mesma quis devolver todos os bombons que ele tinha me dado, era um pena que não estavam mais no meu organismo.
Realmente o problema não era eu mesmo, sempre foi ele.

E ainda nos perguntam ; O que queremos nós mulheres ?

Tânia

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O Australiano

Inicio de uma sexta-feira. Minha amiga me liga , já pela manhã, me chamando para ir em uma boate que é bem badaladinha aqui em Floripa. Como era verão tinha uma galera de fora visitando a nossa linda ilha da magia. A noite chegou e nós fomos baladear. Chegando na boate pensei ser uma festa comemorativa de qualquer turma de terceirão de escolas de Florianópolis, o mais velho dos meninos deveria ter no máximo 18 anos. Não que isso seja assim um grande problema quando você está matando cachorro a grito, mas quando a fila está fluindo com certa continuidade boa não é preciso apelar, apesar de eles serem bem esforçados em nos agradar , muitas vezes mais que os mais velhos.
Pois bem, bebemoramos então a nossa noite, pois é isso que nos restará... quando de repente chega uma excursão de australianos e um deles muito me agradou , a principio. 
Meu inglês era uma shit , não que hoje seja maravilhoso, mas naquela época era terrível de verdade. Eu só sabia falar "the book is on the table"  
No inicio ficamos nos olhares e como eles geralmente costumam ser lerdos resolvi descansar o pé - que estava sendo massacrado por meu salto alto - sentando. 
Foi ai que aparece um australiano - outro - querendo talk to me. But, i did not speak english. Foi ai que ele me soltou um sonoro: "Como alguém não sabe falar inglês?" (em inglês)
Baby eu não sei se you know, but você está em um país onde as pessoas falam português, aprenda falar você a língua do pais em que visitas.
O menino saiu nos chingando, irritado de verdade, foi ai que chegou o bunitinho para speak com a gente. 
I' sorry! - disse ele.
(Isso eu sabia o que significava)
Okay, falei orgulhosa de ter entendido.
Então ele sentou do meu lado e começou a falar inglês e eu português .A figura me chamou para dançar e eu fui. Que situação horrorosa; Eu não entendia nada do que ele falava e só fazia que sim com a cabeça e foi ai que ele me deu um beijo. Foi a noite em que mais escutei a palavra "água" na minha vida, pois era uma das poucas palavras que ele sabia falar em português. 
Nessa noite eu entendi o porquê que o beijo é a língua universal!

A entrevista




Entrevistei um coveiro, o que dá matéria muito interessante. Vi a vida de um cemitério. O que me parece meio contraditório, mas não se trata de antítese. Ele me explicou calmamente como o abrigo dos mortos acontece em cada estação do ano. As árvores, dão mais trabalho no outono, e no verão são muito úteis, por causa de sombra feita para gente que sofre por corpo que morre.
Os passarinhos também ganham papel importantíssimo no cenário mortuário, ele bem me disse que: - passarinho canta e deixa gente alegre- e que deixam casinha de gente que não mora ali, muito sujinha com resíduos que saem pela cloaca.
O coveiro e o pão de cada dia nos daí hoje cemitério limpo e cova bem aberta. Coveiro também canta, e garante que os males espanta e não há no mundo ambiente de trabalho mais tranqüilo do que esse que a sorte do seu ofício lhe permite.
Flor de plástico é muito bom para quem quer enfeitar de beleza que não vive, lugar de gente que não está, a eternidade da lápide de mármore.
Sempre achei cemitério colorido, quando era criança, e me alegrava muito os dias de finados, eu nada tinha a ver com lágrimas e lamúrias de adultos, era a volta para casa com passagem certa pela praça com balanços, que meu pai me levava, que causava-me maior alegria.
Fascínio de novembro, criança que chega, avô que vai embora. O ar que corre se chama vento e limpa toda a tristeza do mundo, é por isso que finados venta muito, para varrer ilusão de gente que choraminga. Choramingo também lava alma, alma que lavada se renova.
E o coveiro? Como foi que perdi o coveiro nessa história? Sai do cemitério calculando passos de gente que ainda anda, e que sou eu, saindo da oculta vida de um coveiro, do incansável trabalho de flores, pássaros e árvores, calculando passos para não me perder na morada dos mortos, e sobre tudo, no mundo de coisas muito vivas.  

                                                                                   Flor de luz