domingo, 24 de julho de 2011

Karaokê, o quê?

Todo mundo sabe que bar Karaokê é divertido não apenas porque, quando decidimos ir pra um lugar desses, estamos embriagados, mas porque ali podemos ser aquilo que nunca seremos algum dia. Um cantor de sucesso, um rock star, sex appel, um grande intérprete. Num bar karaokê nos transformamos não apenas em cantores, mas cantamos músicas que não ouvimos em casa, dançamos canções que os nossos pés nunca embalaram, e fazemos outras coisas que, em condições e lugares comuns, não faríamos, a princípio. Pois bem, há por certo algum tipo de mágica que envolve esses tipos de ambiente. Por essa razão, vou lhes contar uma história que se passou com uma amiga de uma amiga de uma amiga minha num desses bares karaokê, à beira mar, com cerveja mais ou menos barata.

A história é longa e o final é clichê, ok? Estou avisando desde já pra evitar frustrações, já que essa vida é cheia por demais de frustrações, não pretendo provocar mais uma. O que não é clichê nessa vida, eu lhes pergunto.

A primeira vez que a amiga de uma amiga de uma amiga minha tinha o visto, estava na tenra idade da infância, recém tinha feito 11; ele, nos anos dourados da faculdade, tinha por volta de 20. Os dois se conheceram porque ele era amigo da irmã mais velha dela, sete anos de diferença. Faziam o mesmo curso na faculdade.

- Essa é a minha irmã, a Belinha.

Depois de se cumprimentar de forma infantil, foi assim que ele a chamou, com esse apelido familiar, nos próximos encontros que ocorriam por acaso. Os anos se passaram e nunca mais se viram. Mas os Novos Baianos há anos nos alertam sobre a Lei Natural dos Encontros e, seguindo essa legislação, os dois se encontraram, dez anos depois, num bar da cidade pequena onde moravam. Percebi que cidade pequena tem a vantagem de juntar e reencontrar as pessoas, já que não possui muitas opções de entretenimento. Tinham um amigo em comum.

- Cara, tu deve conhecer ele. Disse que estudou com a tua irmã.

Ela lembrava. Os dois se cumprimentaram e soltaram o chavão “Quanto tempo!”.
Entre uma cerveja e outra, a conversa iniciou. Como ela já podia supor, tratava-se de um papo bastante interessante. Algumas vezes estranho, mas isso não se constituía num problema, conversas estranhas conseguem prender a fugaz e efêmera atenção bêbada dela. Encontraram-se várias vezes depois, por acaso, no mesmo bar. Todas as vezes que se viam, sentavam juntos pra conversar algum assunto aleatório. A amiga da minha amiga que é amiga dela disse que um dia a menina confessou que gostava muito de conversar com ele, e se sentia muito bem quando percebia que ia desfrutar da sua companhia. Ele trazia de uma maneira intrigante algumas novidades que ela sempre ansiava ouvir. Constrangida confessou, que no fundo, guardava secretamente um pequeno desejo contido de – talvez, quem sabe, algum dia, distante dia – saber como seria beijar os lábios que sempre via se mexer pra contar suas histórias e novidades. Até que chegou o Karaokê.

Já passava da meia-noite, numa segunda-feira qualquer, quando os dois e mais uns amigos, decidiram ir cantar num Karaokê, já bastante antigo na cidade, ali perto do tradicional  bar que freqüentavam quase todas as semanas. As várias cervejas berraram dentro deles: vamos lá! Fiquei sabendo pela minha amiga, que é amiga da amiga dessa menina, que foram todos pro Karaokê, e escolheram cantar uma música dos Beatles. Depois disso dançaram e cantaram músicas que nem lembram quais. Mas a menina lembra muito bem quando ele colocou a mão na cintura dela, e falou algumas coisas que ela também já não se lembra. Mas de uma coisa ela recorda.
Em algum momento da madrugada, ele pegou a sua pequena mão, e os dois atravessaram a rua principal em direção à praia. Como se estivessem fazendo algo errado – não que fosse errado, não sendo também correto – procuraram um lugar que não fossem vistos. Pois bem... o resto vocês já devem imaginar.

Por motivos que eu ainda não sei, eles ficaram se sentidos culpados e constrangidos quando acordaram no dia seguinte. Não conseguiram trocar uma palavra. De fato, a ressaca moral surgiu dentro deles. Parece que devido a um terceiro elemento, um amigo dele, que ficou com ela ficou por uns tempos, um mês antes do acontecido no karaokê... Parece que por causa da diferença de idade... Parece que por causa dos vários anos que se conheciam... De qualquer forma, os motivos reais, de fato, ainda não sei. Talvez nunca saiba.

Esses dias fiquei sabendo que a menina está procurando um saco sob medida, no qual possa enfiar sua cabeça, na próxima vez que for pro bar. Percebi que cidade pequena tem essa desvantagem, de juntar e reencontrar as pessoas, já que não possui muitas opções de entretenimento.

Escrito por “Embalos de Segunda-Feira à noite”.

sábado, 23 de julho de 2011

Núcleo



... Om ... e tudo se esvai como sangue que escorre de ferida aberta até se extinguir, e então se transforma, nada se perde tudo se transforma, e separações são sempre imaginárias, eu nunca me separo do todo. Os instantes desmancham as coisas como uma linha puxada do tricô, até que os próximos instantes com suas agulhas constroem blusa nova, os anos esvaem as gerações, células mortas dão lugar a células novas, e o corpo de Deus agoniza no hospital. Suas células estão doentes, Deus delira de febre na enfermaria, eu, pequena célula de seu corpo, busco a cura, se me curo, curo parte de seu corpo, mas preciso do meu núcleo, meu núcleo me conta coisas horríveis, meu núcleo pede que eu abrace minhas células irmãs podres, minha epiderme joga a culpa nas outras células por nosso repouso agonizante no leito, mas a cura é um mergulho no núcleo, núcleo que contém amor repugnante, e eis a cura, e eu que sempre me defendi, e eu que sempre quis o limpo e o certo, beijo e envolvo com os braços células horríveis, células em guerra, células cegas de seus núcleos, células que nem se quer percebem que pertencem a um mesmo corpo, meu núcleo me atraí como um íman, eu juro que eu não queria o amor, nunca me perdoei, eu que sempre impus minhas armas, munida de palavras que ferem até os dentes, minhas palavras são espinhos venenosos, e a culpa? A culpa é delas, grita a minha epiderme, a seca e as enchentes vem de Deus, sou isenta de culpa, Deus castiga porque é Pai, e assim eu encosto minha cabeça no travesseiro e durmo o sono dos justos, oh meu núcleo vazio, porque me chamaste? Teu vazio me embriaga, teu silêncio sufoca meus sons de ira, o que posso contra ti, já não posso contra mim, ainda sei fugir de ti, se ainda não caí em ti, é porque me dependurei em um galho da epiderme, olho para baixo, pr’o teu abismo, minhas mãos suam, elas, escorregadias, implorantes, por medo de cair em profundidade. O ar lá de longe é da cor do céu, e no meu núcleo nenhuma resposta, nenhuma palavra, nenhum pensamento. Dependurada no galho vejo a cara do amor, que do abismo me olha, mudo silencioso. Olhos que me desafiam para um salto, eu digo não ao mesmo tempo que escorrego e não quero resistir, eu quero Deus de pé, fora do leito. Eu queria um médico, passaria para ele a responsabilidade de curar o enfermo, eu? Eu rezaria para nosso Senhor Jesus Cristinho, que afinal de contas nasceu para salvar a humanidade, e você por favor não me amole porque não quero ser crucificada, o senhor por favor me entenda, se esse abismo não fosse um nada, é que do tudo como você sabe, quase tudo tem um nome e me sinto mais segura, esse nada que me arrasta, indefinível, sem nome sem explicação, meu núcleo é um profundo, fundo não vejo não, por culpa dele estou perdendo os fatos da minha vida, estou me perdendo, estou me achando, estou rindo como uma tola que nada sabe, células gritam, células correm, células espertas, se fossem bobas cairiam no abismo, e o mundo? O mundo é dos espertos que ainda não despertaram, células que poliram suas epidermes que reluzem brilhantes, desfilam cansadas, risonhas e vão se esvaindo sem nunca perceberem seus núcleos, os que caem no abismo? Mistério para mim! Os que caem no abismo são os “loucos”, se entregam para o nada, vivem por aí, loucos, bobos, choram lágrimas de sangue e dizem que nada sentem, recebem farpas, garrafas de vidro quebradas e dizem que foram abençoados. Eu sou minha única salvação. Eu queria você! Quando eu tinha você minha vida era risos, era lágrimas, eu corria com você no fio da vida sem saber que me esvaia, sem saber que me transformava, eu não sabia, eu respirava desapercebida do ar, eu vivia fatos sem saber que tricotava meu destino, o nosso destino, perdi você, eu me perdi, ganhei a nós como matéria no espaço, não te quero mais porque me perdi, não posso mais ser só eu, agora eu tenho tu, ele, nós, vós, eles colados em mim, não sei como que não posso mais rir e chorar como antes, eram os meus passos, era a minha voz que eu seguia naquele túnel, eu não me via e corria para mim com necessidade do meu abraço, necessito do meu repouso em mim, ganhei um mundo que não explico, eram as formigas que trabalhavam incansáveis, eram as moscas tontas no ar, as plantas existindo o tempo todo só para a minha respiração perfeita, os passarinhos sem nunca desistirem de mim, cantavam a liberdade em seus voos perfeitos, mensageiros, anunciavam o meu núcleo. Eu me encarnei na vida, como espírito que encarna em corpo novo, recém nascida, sem andar, sem falar, eu era a vida existindo na vida, a vida pura, a vida no seu núcleo. Se minhas mãos teimam em se agarrar em galhos, um dia, um dia o galho quebra e a queda é inevitável, então deixarei minhas mãos livres e soltas no ar, no ar eu vivo.


                                                                                                 Flor de Luz    

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Extra físico

Nos olhávamos em outro plano, eu conhecia o teu ser ‘não-fisico’ e você se dissolvia em mim. Meu sentimento era branco, faltando o vermelho, jamais seria cor-de-rosa. Foi aquele tempo em que as vidas se acrescentavam e com entendimento se separaram. Experiências concluídas e agora tenho em mim o teu ser impregnado, pois o laço se fez em fios de nada e o nada o tempo não corrói, nada em mim, nada em ti, nada em tudo. Um dia cruzo o teu caminho, peço desculpas pela brancura dos meus sentimentos, por aquele mundo que ao te estender a mão não sabias tu que se perderia na noite do meu ser, meu estranho mundo, meu profundo mundo. Nos olhávamos em outro plano e foi o início de uma jornada.



                                                                              Flor de Luz

quinta-feira, 14 de julho de 2011

O moreno magrinho e safado

Eu o conheci em um outono de Florianópolis. Era aniversário de uma amiga que estava de olho nele, tudo indicava que eles iriam ficar naquela noite. Lembro que o amor da minha vida, até então, também estaria na festa e então me armei como se estivesse indo para uma guerra! O ritual iniciou às cinco da tarde e a festa era só as dez. Afinal de contas o “amor da minha vida” não era qualquer coisa e ele era um tanto difícil de agradar. Coloquei minha melhor roupa e caprichei no decote (superficial? Não! A gente pesca assim! Os homens se apaixonam pelo o que vêem e só depois de pescado é que você pode mostrar que não é apenas uma aparente sereia, tem muita “cuca no lance” e então ele só foge se for um peixe palhaço). Mas voltamos a história. Como eu fui com a aniversariante cheguei primeiro que todo mundo (o todo mundo a que me refiro era o tal amor da minha vida). O amor da minha vida (ex amor, eu coloco?) como sempre, quebrando meu coração em pedacinhos foi o ultimo a chegar. Até lá bebi cinco caipirinhas de morango e comecei a desconfiar que tinha um moreno magrinho na mesa me dando aquelas famosas olhadinhas, mas pêra ai! Esse moreno magrinho não é o carinha que minha amiga, a aniversariante, queria pegar? Iii ferrou- eu pensei! Parei com a caipira, comecei a tomar água, nada de fazer merda menina – era eu brigando comigo mesmo! – Mas ele insistia e eu já não sabia mais como disfarçar foi quando chega o amor da minha vida, uma entrada triunfal, tipo propaganda do desodorante antigo AVANÇO que só eu avançava, pois ele não era assim um príncipe da beleza, mas era o amor da minha vida.
Assim para não parecer desesperada fiz que não vi e puxei um papo nada a ver com uma menina que estava sentada do meu lado. Passado alguns minutos me fiz de descolada e levantei para ir cumprimentar ele. Qual foi a primeira coisa que ele olhou? O meu decote! Qual foi a primeira palavra que saiu da sua boca? “humm que bonita que você está! Que “blusa” bonita!” Pronto, pescado! Mas como não podia deixar na cara que eu queria ficar ali do lado dele durante a noite (ou seria vida?) inteira dei um sorrisinho de meia boca, querendo ser sensual, e fui ao banheiro. Quando olho para o lado, quem quem quem? Você! Você! Você? Não! Ele! O moreno magrinho. Veio com uns papos estranhos e tal, eu já deveria ter sacado naquele momento que boa coisa ele não era, mas dei corda. Acabou que eu escapei pela tangente e voltei a mesa como se nada tivesse acontecido. Depois do banheiro ele volta e senta do meu lado, papo vai e papo vem, eu para tentar escapar digo que tenho que ir ao banheiro novamente, no caminho o “amor da minha vida” me aborda e me oferece uma carona! Eu não aceitei, agora o porquê disso eu não vou contar aqui que seria outra história. Bom o moreno magrinho “chegou” em mim e por causa da minha amiga aniversariante que estava aos prantos eu disse não. Eu deveria ter continuado nesse não o resto da vida, porém duas semanas depois, depois também de ter conversado com minha amiga aniversariante, eu cedi e fiquei com o moreno magrinho. Ficamos juntos por um bom tempo, eu acho até que me apaixonei por ele, mas hoje eu vejo que o melhor presente que eu dei a minha amiga aniversariante naquela noite foi ter livrado ela dessa! O moreno magrinho se tornou um sapo feio e safado! =)


Mas o amor da minha vida... Continuou sendo o amor da minha vida ainda por muito tempo...
Olívia Palito
            

segunda-feira, 11 de julho de 2011

A gênese


Juro que quero expressar os dejetos do espírito como quem exprime veneno do corpo, expulso enfim o que restara das vidas sem amor e dos Karmas empilhados por impulsos tão vis.
Ele chegara como um homem que sente na carne a confusão de homem que procura por amor. Eu era Ana e fui Ana assim por muitas vidas, jamais esquecerei dos sentimentos de Ana.
Olavo chegara em sua vida e entrara como todos os Olavos de sua existência, seu desejo era o prazer do desprezo, era assim que arrastava todos os homens e deles se desfazia por vaidade.
Olavo como todos os homens em sua obviedade chegara inteiro, ela de muitas faces e fases da lua, escolhia a lua nova para causar maiores estragos, na lua cheia seduzia, nas outras dissimulava e distraía, até que na lua nova Ana se tornava inteira apenas para ela mesma e desejava ferir apenas atordoando com seus vagueios  de olhar, que deixava Olavo a deriva de seus caprichos.
Ana era o poder que se perdeu na vaidade, Olavo apenas o Olavo de todas suas vidas, repetia Olavos em círculos, era o vício que lhe causava vertigem de Olavos. Desejava Olavo e não chegava em seu coração.
Viu Olavo de muitos jeitos, acima de seus olhos, abaixo de sua cintura, Olavo quieto trazendo o silêncio de todos os Adãos.
Ana sonhava com a ausência dos sentidos e nesse transe desfazia os Olavos em pó, era-lhe permitida a ausência da maldade que Deus tão bem plantara nela.
Ana queria sua plenitude que desconfiava não estar nos moldes que lhe pregavam, era nessa desconfiança que depositava suas forças e entrava em transe. Viu um Cisne em cores de Arco-Íris e sentiu que Ana nascia Joana Nova, mais uma vez tinha a chance do recomeço, poderia então fazer Olavo rir sem chegar ao seu coração?
Ana Joana Nova buscava a fonte que jamais pedira a dor alheia, ela tinha em seu íntimo a inquietação que era a nascente pedindo para brotar água pura, se Ana permitisse.
Olavo é alheio a coisas de fonte, por isso buscava em Ana a vertente que estava por nascer, Olavo não tem faces, não tem fases, não tem nada, entrara em sua vida com dois sapatos e sentara no canto do quarto.
Ana Joana Nova era mulher que levava Olavos de volta para casa, agora Ana vivia em transes muito sérios, eram rédias que lhe conduziam ao caminho dos Cisnes.
Assim gira o mundo a gravitar entre histórias de Anas e Olavos eternos, a gravidade segura todos os seus erros, e nascem crianças todos os dias para assegurar a permanência de Anas e Olavos no mundo, fui Ana muitas vidas e senti piedade dos jogos que se confundem com Amor, era um buraco que se preenchia com mercadorias disponíveis em prateleiras de supermercados, no lugar da Alma.
Ana enfiava Olavos e mais Olavos buraco abaixo em um vazio que nunca preenchia. Foi Ana Joana Nova que deixou-se transbordar, nasceram ramagens que tocaram os pés de Olavo. Ana não pedia nem queria, apenas sorria, foi um Cisne Arco-Íris que transformou a maldade de Ana em benção eterna.

                                                                                                   Flor de Luz

sexta-feira, 8 de julho de 2011

émEspaços ...

Milhares de pessoas no mundo, seguidas de seus dramas existenciais, vivem a felicidade de ter a infelicidade de uma vida incompleta.
Seguro o vazio nas mãos, certa de que possuo imenso espaço de desejos não realizados.
Algo me falta e seca-me a boca.
Tenho sede de todas as coisas que ingenuamente digo que me faltam.
Alguns vestem-se de solitários e outros esbravejam o peso das amarras que teceram a outros.
Todos nós felizes e seguros pela falta de plenitude que nos garantem: assuntos, buscas e lamentos.
Os cinemas, as novelas, os romances, as igrejas e santos de gesso mentem, pois nada enche o nosso jarro.
Desfiz-me em desejos, compromissos e horas do dia, enlevada pelo tricô desfeito da minha identidade, da imagem no espelho e de todo o futuro que me cobra acertos.
Um vazio de história invadiu o meu vazio, até sentir em meus lábios um sorriso idiota de quem não espera e mesmo assim não sai do lugar, inundada pelo que não explico e contemplo.
Volto para as milhares de pessoas, para meus desejos e ignorâncias de felicidades.


                                                                                    Flor de Luz

quinta-feira, 7 de julho de 2011

O príncipe loiro

Na descrição do blog, alguma coisa me chamou atenção. 
Algo sobre todo "tipo de experiência", "momentos inesquecíveis", e sua história com "sapos".

Perceba então, que não é sobre amor. 
Cara amiga, tenha você a idade que tiver, isto é um alerta.

Monte a imagem de um príncipe perfeito: olhos azuis, loiro, musculoso, pouco mais da sua altura, estilo surfista e que pratica esportes. 
Essa foi a imagem que vi de um "conhecido de uma amiga minha" por foto. 
Suficientemente atraente, solteira e inocente, deixe-se encantar. 
Essa era eu, com recém feitos 14 anos. 

Crie uma expectativa de encontro.. muito reforçada por amigos em comum. 
Ouça algo como: "eles precisam se conhecer".

Tome banho, se arrume, se perfume, sinta-se linda, saia do seu lar, dê tchau para sua família, se precisar peça benção pro seu pai, e vá até uma pizzaria em uma praia da cidade. 

Espere uma hora e meia mais ou menos e comece a duvidar se ele virá.
Ele, o Príncipe. 

Eis que ele entra, tênis meio largado, barba por fazer.. um aspecto meio,  hm, sei lá, malandro demais. 
Ele olha pra você e pergunta: "é essa?", sem rodeios e descaradamente. 
"Como assim, pensei, então não vai haver romance, não vai haver conversa, tá tudo planejado?, que tipo meio grosso que me arranjaram hein." 

Encontre-se você na situação supracitada e queira ficar ali pra ver no que vai dar. Ou não.

Eis que pedimos pizza em 4 amigos. 
Veja metade da pizza de chocolate ser devorada estilo troglodita pelo príncipe com direito a restos de sujeira nos dentes. 
Ainda assim queira ficar, afinal, ele está meio cheiroso mesmo. 

Conversem, quer dizer, tentem. 
Você descobre que seu intelecto é um pouco avançado, coitado, ele só tem 21 anos. "Ãn, que porra é essa, 21 anos? ninguém me avisou? pq diabos eu não perguntei? 14 vs 21.. merda de pedofilia."

Acontece um momente em que o príncipe meio grosso de olho azul dá a infeliz idéia de ir no posto "tomar uma gelada" e todo o pessoal aceita a idéia, menos você claro, que já não estava gostando muito de tudo antes. 
Se veja sozinha, uma contra todos. 
Não estava em casa mesmo e precisava não se perder de todo mundo. Acabe indo junto. 

Tentem adivinhar o nosso meio de locomoção?

Tempo. 
5,4,3,2,1!!!


Um furgão.
"Ok, quem aqui amigo nunca andou num furgão?" Eu me pergunto.

Entro no furgão com o príncipe atrás e uma amiga. 
O motorista da coisa, tava tipo assim super engraçadinho. 
Pediu pra 'nos seguramos' e começou a dirigir enlouquecidamente de propósito. 
Algo como pra nos causar um pouco mais de adrenalina, como se precisássemos. 

Enfim chegamos no posto estilo AmPm no tempo em que alguns lugares de Floripa ainda eram meio desertos. Descemos, amém. 

Só então a criatura loira chega pra me dar um beijo. 
Segundos depois, junto com o beijo, chega também um carro enlouquecido, um cara montado numa moto, e a partir daí eu só vejo o sapo loiro catar um capacete jogar contra o carro.. Um pouco de soco pra lá, um pouco de soco pra cá, e finalmente uma garça loira grita do carro desesperada: "Vocês não sabe com quem tão se metendo gurias, vocês deviam escolher melhor com quem andam. Ele já contou pra vocês que é um dos traficantes mais procurados da região???"  

Corre todo mundo pra dentro do carro, e foge um pouco antes da polícia chegar.
Bom, hoje to viva contando essa história. 
Quer dizer que tudo acabou bem; pra dizer que o meu príncipe virou sapo. 

Não tenham 14 anos para sempre. Não se deixem enganar assim tão fácil. 



AIRAM

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Pensamentozinho recorrente

Era uma tarde de outono e me sentei embaixo de uma árvore. Inesperadamente, um passarinho pousou em meu ombro. Fiquei com medo de me movimentar e espantá-lo, mas ele parecia mais confortável do que eu. Mesmo assim não tive coragem de estender a mão. Talvez ele voasse pra longe, talvez nem se importasse. E nessa dúvida do passarinho me deixar ou não, tudo o que fiz foi pensar que eu não poderia ser egoísta e esperar que ele não voasse mais. Mas que não seria errado eu simplesmente desejar que ele quisesse ficar no meu ombro por ele mesmo.

Fernanda Cereser F.




Eu escrevi isso em novembro do ano passado. O medo que eu tinha de que certa pessoa desaparecesse com um piscar de olhos vivia me atormentando. Mas o tempo passou. Rápido. Me surpreendendo. O passarinho não se foi. O medo ainda aparece de vez em quando. Mas eu continuo aqui, sentadinha, sentindo o vento passar. E continuo desejando que esse passarinho queira ficar aqui, comigo, pelo tempo que ainda há de vir. 

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O meio inteiro


Em quanto tempo sabemos se estamos no meio, no começo, ou no final? Como enxergamos este limiar entre a sorte do começo, a intimidade do meio e a constância do caminho pro fim?



Por Mélam

Nem meu, nem tua


           Porque o gosto da tua boca não me aguarda. Porque já fiz uma música pensando em ti. E a distância se transformou em cálculos, movimentos. Porque continuamos juntos, sem possuirmos. Porque não estou a fim de te ver esta noite, porque não estou nem ai se não te vejo, não me sufocas, posso existir.
Porque é uma soma a nossa existência, não sou doente quando penso. Já fico enjoada. Não te namoro. Prefiro a responsabilidade de ser livre. Não te invejo, não quero nada seu, não te possuo.
Porque estou consciente de não estar a fim de te ver, te querer, me sinto solta. Toco-me, quero estar sozinha. Toca-me e já não tenho corpo, repouso. Não sei nada.
É medo porque parece anormal, o tempo é incerto, sei por que Osho me disse. Encontrei ou não o meu lado gêmeo, não importa mais.

Por Mélam